Agradeço de coração
ao meu amigo Geovane pelo comentário a minha poesia “Onde se aninhar?”. Tenho
certeza de que os que mais sairão ganhando desta brincadeira filosófica, além
de nós dois, são os nossos leitores.
Primeiramente quero
destacar que, infelizmente, nós perdemos muito nos ambientes acadêmicos, e em
outros, o espírito de construção através de debates. Pensar em debater parece
muitas vezes com brigar, defender um ponto como se ele fosse a única explicação
possível e cabível, isso quando não se leva para o lado pessoal. Destaco que
não é esse o sentido que eu e Geovane propomos aqui. O que queremos é a
construção e não a “detonação” do outro. Boa leitura...Bom poesiar...
Onde se aninhar?
Voou o passarinho em busca de um
ninho
Procurou entre as laranjeiras
Sobrevoou as cerejeiras
Mas onde repousar? Onde construir
um ninho para morar?
Continuou o caminho
Encontrou uma casa, mas lá não
dava para morar.
Voou mais um pouco
Sua companheira o seguia
Coitado! A pobre dizia
De repente encontraram uma
pequena árvore
Ficava no quintal de uma casa
Era uma arvorezinha parecida com
um pinheiro de natal
Agora sim! Vou aqui morar!
Rodearam-na voando
Oba! Temos uma casa, é aqui que
vou morar
Buscaram galhinhos e lá
construíram seu ninho
Naquela pequena árvore
Ali foram morar
Ali viveram
Ali tiveram seus filhotes
Três passarinhos
A mãe cuidando e o pai a
alimentar
Ali cresceram
Ali os pequenos aprenderam a voar
Depois os filhotes foram embora
Foram seguir o caminho
Construir novos ninhos
Novas árvores habitar
E o casal passarinho
Ali ficaram no ninho
Até um dia Deus os chamar.
Emanuel
Tadeu
Quem disse que
passarinho levanta voo apenas atrás de um ninho?
Quem disse que ele
quer repousar? Ele quer mais a liberdade.
Liberdade que sempre
lhe foi recusada, liberdade que sempre quis ter.
Companheira? Sempre
teve que voar sozinho,
Sempre foi amigo da
solidão.
Árvore? Pinheiro de
Natal? Não quer nada disso.
Quer o céu, quer o
horizonte.
Pra quê estagnar se
minha sina é movimentar?
Oba! Não serei mais
prisioneiro. Meu ninho é o universo!
Será mesmo que minha
missão é procriar?
Sou um simples
pássaro! Não sou humano.
Nem por isso deixo de
ser criatura divina.
Ah, a liberdade!
Grande presente do Criador!
Ele me chama apenas
para voar, cada vez mais alto.
E
se o limite for o céu, é lá que eu vou estar!
Geovane Macedo
Geovane: Quem disse que passarinho levanta voo apenas
atrás de um ninho?
Emanuel:
Poesiar significa refletir a existência. Pobres são
os que interpretam uma poesia querendo concretizá-la como se fosse uma constatação
científica, uma explicação fidedigna da realidade.
O passarinho pode ser
um passarinho, um pensamento, uma pessoa, a imaginação, a alma ou aquilo que você
desejar. Poesia não é para transliterar, mas para poesiar (Caso não saibam o que significa poesiar, há uma poesia que fiz e está nesse blog para explicar essa
singela expressão adota por mim. Vai lá e poesie...).
Geovane:
Quem disse que ele
quer repousar? Ele quer mais a liberdade.
Liberdade que sempre
lhe foi recusada, liberdade que sempre quis ter.
Emanuel: Quem disse que ele quer a liberdade? Quem
poderá afirmar isto? Quem pode afirmar que repousar é ir contra a liberdade? Posso
repousar e sou livre para isto. Entretanto, será que um pássaro tem liberdade?
Ou este conceito é só para seres humanos? Será que podemos aplicar conceitos
humanos aos animais?
Ou se o pássaro da
poesia é metáfora do homem: Querer ter liberdade? Será... O homem é livre ou
está condicionado às regras que regem a sociedade? Será que somos livres
realmente? Posso fazer o que quero e não ir parar na cadeia?
Geovane: Companheira? Sempre teve que voar sozinho,
Sempre foi amigo da
solidão.
Emanuel: Amigo da solidão? Mas que expressão! Viver
sozinho será possível ao pássaro? Será que conseguirá sobreviver? E a procriação?
E a manutenção de sua espécie? Como sobreviveria se seus pais não o tivesse
alimentado nos anos iniciais? Será que seria filho do acaso? Seria o pássaro
auto reprodutor?
Geovane:
Árvore? Pinheiro de
Natal? Não quer nada disso.
Quer o céu, quer o
horizonte.
Pra quê estagnar se
minha sina é movimentar?
Oba! Não serei mais
prisioneiro. Meu ninho é o universo!
Emanuel: Quem pode dizer que não quer uma árvore, um
pinheiro de Natal? Como querer viver no céu, nas nuvens se lá não há lugar para
descansar após os longos voos? Após as cansadas batalhas diárias? Se lá não há
local para construir seu ninho? Se nele habita a falta de consistência?
Será possível ao
homem voar uma vida sem fazer repouso em alguns lugares? Sem parar a fim de
recompor as forças para prosseguir? Será possível ao ser humano caminhar na existência
sem um norte a orientá-lo?
Afinal, ter um ninho onde
repousar é uma prisão? Viver em um universo não significa ter um local para
construir seu ninho? Ou o universo é uma realidade além da sensibilidade?
Geovane:
Será mesmo que minha
missão é procriar?
Sou um simples
pássaro! Não sou humano.
Nem por isso deixo de ser criatura divina.
Emanuel:
Quem disse que a
missão do passarinho é procriar? Quem disse que não é procriar? Isso depende mais
das escolhas humanas do que da natureza propriamente. Como afirmar que é um simples pássaro? Optar
pela existência verdadeira não é escolha de qualquer um. Muitos vivem e não
sabem que estão vivendo. Muitos respiram e nem percebem isso. Muitos são amados
e reconhecem isso, mas infelizmente na hora da morte daquele que o amou.
Será que não ser
humano significa não ser criatura divina? Para quem crê em Deus, realmente
somos todos criaturas Dele independente de humanos ou não.
Geovane:
Ah, a liberdade! Grande
presente do Criador!
Ele me chama apenas
para voar, cada vez mais alto.
E se o limite for o
céu, é lá que eu vou estar!
Emanuel:
Grande e maravilhoso
presente do Criador: a liberdade.
Sou livre, posso
escolher. Posso voar, posso aninhar, posso rir, posso chorar, posso amar, posso
ficar com raiva, posso questionar, posso rezar, posso não crer, posso ser...
E se o limite for o
céu, não quero ir para lá, pois não quero me limitar. Quero o ilimitado, quero
a eternidade, quero estar um dia na presença do eterno ilimitado que se faz
presente na minha pequena e poética existência.
Talvez o céu não seja um limite, mas um começar de uma nova história...
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