Quando se vai à cidade, tem que passar na igreja e rezar.
Assim fiz. Entrei naquela grande matriz que parecia desproporcional à cidade
tão pequena. Fiz a vênia diante do altar e dirige-me à capela do Santíssimo.
Entrei, fiz a genuflexão e ajoelhei. Enquanto rezava, via aquela mulher com uma
criança ajoelhada ao seu lado. Parecia uma mulher adulta, provavelmente tinha
de 30 a 40 anos. Ela rezava o terço da Misericórdia. Que boa escolha! Em meio à
pandemia que vivemos do Coronavírus, nada melhor do que pedir misericórdia ao
Senhor. Mas algo tocou meu coração. Enquanto ela rezava, a criança sempre
repetia as últimas palavras da oração como um eco, um eco espiritual. Não sei
se aquele menino sabia rezar, mas vendo aquela mulher, que provavelmente era
sua mãe, com certeza estava motivado. Ela rezava e ele ecoava. Vez ou outra a
criança olhava para um lado e para outro, distraída com outras coisas, mas
continuava seguindo a mãe na oração. De repente, a mãe fixou os olhos no
sacrário. Olhou para aquele cálice com a hóstia esculpida na madeira. Não sei o
que pensou, mas com certeza era de uma grande profundidade, que fez aquela mãe
sentir o céu aqui na terra em poucos instantes. Ela subiu o olhar e viu o
cordeiro esculpido na madeira que, repousando sobre um livro com resplendor
atrás, demonstrava que o Senhor é o cordeiro que tira o pecado do mundo. Fez
lentamente o sinal da cruz de forma que aquele gesto, muitas vezes feito às
pressas, se tornou oração também. Pegou o filho e as sacolas que estavam ao
lado e dirigiu-se para o presbitério. Lá a mulher olhou para a imagem da
Senhora da Piedade que parecia estar chorando com o filho morto no regaço.
Fixou seu olhar e parecia deixar escapar entre os lábios: “mãe, cuida do meu
filho e de todos que sofrem”. E ela? Nada pediu para si. Algo típico de mãe que
preocupa mais com o filho, com os outros do que consigo. Jogou um beijo
carinhoso para a Santa e disse ao filho, apontando para a imagem: “joga um
beijinho para a mamãe do céu”. Ele olhou para a imagem e com suas pequenas mãos
enviou o mais puro beijo à mãezinha dos céus e disse: “tchau, Nossa Senhora,
fica com Deus!”. A mãe sorriu discretamente, não o corrigiu, o pegou nos braços
e saiu daquela grande igreja matriz, que naquele dia testemunhou um gesto que
tocou o céu e fez a Santa Mãe Maria derramar lágrimas de emoção.
Emanuel Tadeu.
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