A chuva começa a cair
Bate na velha vidraça
Tum... tum... tum...
Se joga com força
Não tem medo de nada
Joga-se como o pássaro ao vento
Pingo louco!
Que fascinante liberdade!
Escorre pela janela
Como a cera da vela
Toco-lhe por dentro
Não consigo molhar meus dedos
Apenas contemplá-lo
Admirá-lo!
Esplêndida arte de pingar!
Escorre suave
Parece querer contar algo
Gotas sempre escondem segredos
Vez ou outra riem ou choram.
Contemplo com meus olhos
Vejo a cidade molhada
Na noite chuvosa
Bendita chuva!
Lágrima na janela
Toco-lhe sem tocar
Escuto sua voz
Tum... tum... tum...
Sinto minha alma molhada
Embora o corpo seco
Envolvido pelo tempo
Já estou longe dali.
Chuva desperta emoções
Apenas a contemplo pela velha vidraça
Vem lavar o mundo
Vem lavar-nos
Humano pobre e mudo
Não saber se expressar como convém
Precisamos entender a vida
O que de fato nos move
Acalmo
Contemplo
Respiro
A chuva a cair
Desprendendo da nuvem mãe
Dona de poucas verdades
Sutil felicidade
Compreendo enfim:
Chuva, chove mais aqui dentro.
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